domingo, 11 de maio de 2008

Os Dias Erguidos


Man Ray -"Negative Blonde"

Contrato com o oxigénio
que pulsa por dentro das roseiras bravas
um campo onde o grande maquilhador, o tempo
se esqueceu de matar
os passos para o perturbante silencio
mas antes disso temos de dizer qualquer coisa
para que o baptismo seja mais real
o sangue mais puro
o olhar mais duradouro e sobretudo para que possamos voar
por dentro um do outro
até nos perdermos um dentro do outro
nessa hora lenta e queimada
como as nuvens que transportam o primeiro carinho e outras palavras de berço
veleiros acordados pelo luar do coração
esses pequenos barquinhos nas mãos do mar
recolhem-me á praia
à casa de verde espuma
e estou pronto para me levantar
para ser aniquilado pelo vento que se escreve e multiplica
com uma espiral de ternura por dentro
até que de dentro apareça e fora ressuscite
o que morreu perplexo e que agora brota
num convite à insegurança do belo

Se estas mãos pudessem
Escrever o teu frágil nome
Eu esperaria por essa tempestade
na límpida madrugada dos dias erguidos.

7 comentários:

Anónimo disse...

um poema de beleza segura, no entanto. gosto muito de o ler, carlos. e sou eu quem agradece as suas palavras. um grande beijinho.

tchi disse...

Detenho-me na «espiral de ternura por dentro»
e na «límpida madrugada dos dias erguidos».

Os dentros saídos das tuas mãos e sentires, surpreendentemente, e belissimamente ditos.

Beijinhos.

Graça Pires disse...

"para que possamos voar
por dentro um do outro
até nos perdermos um dentro do outro" Tão límpida a madrugada...
Gostei muito. Um abraço.

~pi disse...

macio: o útero das palavras







~

Ad astra disse...

de dentro, para dentro


Um beijo

Ana disse...

Esperar a tempestade sabendo que com ela virá a madrugada.
Palavras erguidas na segurança do belo.

Auréola Branca disse...

Pois, nessa tempestade, erguerá seu maior triunfo: amar.
Adorei visitar-te.