terça-feira, 25 de março de 2008

Voz


Seremos eternos
Não haverá tempo para
Nem espaço onde
Crescer para a grandeza do lugar mais elevado
Onde se situam as perguntas mais difíceis
Existe apenas uma resposta
Para todas as histórias por contar
Um segredo preliminar antes da fala
Como um lençol de rosas coberto de vermelho pétala
Um sino de igreja que repete a palavra insónia
E um morcego delinquente na lingua do firmamento
Seremos eternos
Teremos um só nome
Murmúrio de água no vazio das horas
Um alfinete cravado na lapela do sonho
ou uma cabeça de homem esquecido onde já não existe dor
Boa noite
Ainda aí estás?
Então vamos continuar
Com uma vida simples
E asas que nos conduzem ao ninho mais quente
Ao mais saboroso pão
Diamantes?
Ou o peixe crepuscular que sobrevoa os cabelos da terra
Este lado do vento norte que se propaga pela luz trémula da palavra
Somos o gesto de abrir a janela que dá para os invisíveis gabinetes da memória
A desobediência está aqui
No ver muito para alem do necessário
No exigir mais pobreza da mão do homem
Mais cor para a paisagem branca das folhas de papel por escrever
Ou um tempo prodigioso atrelado a dois cavalos negros
A nossa bandeira invisível aos olhos
A nossa voz indizível de poesia intacta.

1 comentário:

Graça Pires disse...

Gostei muito do poema por "este lado do vento norte que se propaga pela luz trémula da palavra".
Um abraço.