sábado, 25 de outubro de 2008

Treva




O poema move-se na obscuridade
Do seu escuro pensar
no jardim de negras flores onde o poeta sangra
Perde-se o nome na boca errada
o cansaço e a insónia crescem dos olhos metafóricos
cães fantasmas devoram a paixão
onde a vida ganha violentas formas
uma estranha águia rasga com o seu bico a têmpora febril
do homem que escreve
o seu abismo
a sua árvore
a sua melancolia
cravada na limpidez dos dedos da terra devastada
pelas avenidas desarrumadas onde deambulo
escurecido de beleza rudimentar
fixo a corda ao cais maternal
onde recordo a ternura completa
das roseiras de seda
a infância arrasada pelo crescimento do corpo
alimento o peixe estelar
trabalho para ti desde sempre
mesmo que não o entendas
mesmo que não o vejas
mesmo que não o sintas
espero em silencio
como o monge de Friedrich
esqueço as cores que me habitavam
entrego-me ao minucioso trabalho
das mãos por dentro do corpo
à colheita da luz que escorre das madrugadas
dos campos ferozes onde habitamos
a Casa de solar arquitectura
eu imagino com delicadeza essa claridade
as sementes preciosas do amor por germinar
veneno espalhado pelo sonho por sonhar
um alicerce suspenso na noite
que me toca o rosto iluminando-o de exuberante treva.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Verdadeiramente Teu


Rodin - "The Walking Man"


Verdadeiramente teu
O que significa isso?
O chão onde se cai
é o lugar onde se desiste
O zero deserto
decerto
seres o meu centro
ou talvez salvares-me a vida
com a tua mão de estrela
e o teu vestido de negro infinito
cada coisa tem o seu peso propicio
e a tua ausência é o silencio que me queima o grito
uma melodia de quem se perde abraçando
o vermelho amargo das lágrimas dessa árvore
que cresce do meu rosto devorado
até ás indizíveis palavras por detrás do poema
o que te digo
é o que não escutas
o que te ofereço
é o que não queres
mas verdadeiramente teu
sou eu.

Não partas antes de chegares
não me deixes sem me tocares.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Este Blog foi agraciado com o prémio Dardos pela ASTRA, que tem também o link nos favoritos: "Outros Corpos". Seguindo as regras de atribuição, aqui fica, desde já o meu sincero agradecimento publico e também 15 dos meus amigos predilectos, a quem eu atribuo a distinção Dardos.

Relembro a este propósito que:

"se reconhecem os valores que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc. que, em suma, demonstram a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre suas letras, entre suas palavras. Esses selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre os blogueiros, uma forma de demonstrar carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web.Quem recebe o “Prêmio Dardos” e o aceita deve seguir algumas regras:
1. - Exibir a distinta imagem;
2. - Linkar o blog pelo qual recebeu o prémio;
3. - Escolher quinze (15) outros blogs a que entregar o Prémio Dardos.


Ad Astra em http://almaversusmare.blogspot.com/
Joana em http://oitavaedicao.blogspot.com/
José Alexandre Ramos em http://quefarei.blogspot.com/
SMA em http://caminho-de-terra.blogspot.com/
Cláudia em http://bluemolleskin.blogspot.com/
Maria Quintela em http://dolugardemim.blogspot.com/
Luis Galego em http://infinito-pessoal.blogspot.com/
R. em http://a-minha-nuvem.blogspot.com/
Maria em http://ocheirodailha.blogspot.com/
Graça em http://ortografiadoolhar.blogspot.com/
Sofia em http://sofialisboa.blogspot.com/
Tchi em http://perolasdeouro.blogspot.com/
Vieira Calado em http://vieiracalado-poesia.blogspot.com/
Pi em http://pas-s-ages.blogspot.com/
PNS em http://4esq.blogspot.com/

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Palavra




Pudemos colocar a fé onde nos é permitido
ou seja a meio do caminho onde só passam as crianças
e os trespassados
e os desalojados
e os desprezados
e os que por abrigo escolheram o céu nocturno
para abrir os olhos da tempestade que é estar nu
e se transformaram em gente imensamente rica
porque puderam fechar os buracos negros da memória
transformar os erros em clarividentes metáforas
a sujidade em branco amanhecer
e esquecer…
a minha direcção é entre esse vento norte
e a verdade que tudo magnetiza
medusas estelares
cidades costeiras precipitas pelo grito oceânico
constelações iluminadas na intensidade
dos teus olhos boreais
os passos em volta do meu nome
levantado entre império nenhum e as mãos abertas
sobre as nossas frágeis vidas
atiro-me contra as paredes futuras de nossa Casa
sonho um coração felpudo feito de espuma estrutural
e asas de borboletas azuis
escrevo o canto do pássaro matinal cheio de folhas
e a ternura desmedida do meu cão
e sobretudo
o meus sangue sentido no afecto das tuas mãos de vidro crepuscular
e não preciso de metáforas
para escrever o que é centro no poema
onde suavemente irrompe o que sempre será
a boca encontrada no silencio da busca
um lugar onde se podem queimar os erros do passado
um ballet de intangíveis luzes para pernoitar no abandono do corpo
dias e noites demasiadas
numa única palavra
que não precisa de ser dita de tão evidente.