sexta-feira, 28 de março de 2008



Brevemente
É assim que se chama a vida
Um falso lugar ancorado a três poemas
O meu, o teu e o desconhecido

quarta-feira, 26 de março de 2008

Balada dos Dias Circulares



Indefinidamente
A luz atravessa o teu corpo
tecla de piano

A areia molhada onde deixaste as roupas
Roubadas pela noite
Tecla de piano

Cidade costeira
Grito de espuma
boca dos assombrados
o teu reflexo inseguro
no canto dos pássaros marítimos
Tecla de piano

Ouvido de concha
Rente aos segredos que não nos pertencem
Tecla de piano

Cidadezinha que instantânea te desfazes
Gato oceânico límpido olhar de água
Tecla de

Marfim de mais um dia
Sapatos rotos
Passo de poeta
Tecla

Os minutos suspensos
na vida dos ramos das mais altas árvores
Compreendo agora
todas as palavras encantadas
vento destruído pela ferocidade da musica
um rosto com o seu abismo
uma ponte para o incêndio do silencio
um movimento puro
a loucura aproximando-se da caneta
ou um garfo hipnotizado
para a alimentação das estrelas.


terça-feira, 25 de março de 2008

Voz


Seremos eternos
Não haverá tempo para
Nem espaço onde
Crescer para a grandeza do lugar mais elevado
Onde se situam as perguntas mais difíceis
Existe apenas uma resposta
Para todas as histórias por contar
Um segredo preliminar antes da fala
Como um lençol de rosas coberto de vermelho pétala
Um sino de igreja que repete a palavra insónia
E um morcego delinquente na lingua do firmamento
Seremos eternos
Teremos um só nome
Murmúrio de água no vazio das horas
Um alfinete cravado na lapela do sonho
ou uma cabeça de homem esquecido onde já não existe dor
Boa noite
Ainda aí estás?
Então vamos continuar
Com uma vida simples
E asas que nos conduzem ao ninho mais quente
Ao mais saboroso pão
Diamantes?
Ou o peixe crepuscular que sobrevoa os cabelos da terra
Este lado do vento norte que se propaga pela luz trémula da palavra
Somos o gesto de abrir a janela que dá para os invisíveis gabinetes da memória
A desobediência está aqui
No ver muito para alem do necessário
No exigir mais pobreza da mão do homem
Mais cor para a paisagem branca das folhas de papel por escrever
Ou um tempo prodigioso atrelado a dois cavalos negros
A nossa bandeira invisível aos olhos
A nossa voz indizível de poesia intacta.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Fantasmas


Colorphul Phantoms - Kazuya Akimoto

Para cada fantasma
um esqueleto de ossos
para cada homem
um lençol de Agosto
para cada tempo
um olhar e um precipício
uma boca de letras grandes
para matar a oxidação do tempo
e nos seus grandes vértices a luz solar dos teus cabelos
gotas de chuva brilhantes
onde se recolhe o sonho
o incêndio do dizer
estas palavras como uma história de explodir
uma tapeçaria de numerosas estrelas
uma branca floração no céu nocturno
pirilampos distantes
múltiplos espaços
onde poderíamos aprender a dançar
a noite é o velho quintal da nossa casa
eu saio pela janela
bato as asas
abro este livro
e ouço a tua voz.

terça-feira, 11 de março de 2008

Tudo Quanto...


Bacon

O sonho é onde arde esta cama inexplicável de acordar
uma zona de propagação das cores ácidas
brancas e vulneráveis
neste pequeno jardim
eu nunca quis companhia
por pensar que estava a mais
totalmente calafetado com poemas e outras quinquilharias
mas do peito surgiram as aladas estrelas carmim
que esperava desesperadamente
antes de me despedaçar
nas pálpebras dos meses e dos anos
olho a noite
é tão pequena
que caberia nas mais perenes mãos
eu diria que me deitaria á sua porta
como um animal abismado
e tudo quanto me cega
é tudo o que me deixa ver.

Poemas do Contra, Baixo e Guitarra





Apresentação de espectáculo dia 20 de Março -18.30 H

Biblioteca Municipal de Matosinhos




segunda-feira, 10 de março de 2008


Munch - Burning cigarette


Os dias de chuva dilacerantes
aparentemente perdidos
entre o nosso nome e a musica das palavras
entre dedos e o tempo dual não ouço
a escrita como um lábio púrpura não sinto
uma mordaça como se não falasses
o dizer do explicar sem perceber
um cravo e um gesto transparente
cruzamos um olhar iluminamo-nos
transbordamos
queimamos a dor infinita no sonho de nos ter-mos
não sei escrever a dimensão da ausência
ou os longos promontórios do esquecimento
braços orquestrados onde guardo
os pássaros descartáveis
que me morrem pelos ombros
e eu recordo como eram os melhores amigos
uma lágrima escondida que me deixava vazio
pronto para o recomeço da memória
algum tempo para te dizer olá
um jantar para te agradecer
o perder de ossos que me são tão pesados
apagá-los no bolor de alguma praia
onde pudesse inocente ser alga
ou pepino do mar
ou cego de música e surdo de luz
e de madrugada
florescesse...