
"Snooze" - Ronald Nowak
Sabe bem escrever
é como se estivéssemos vivos
e com uma faca de palavras cortássemos a morte pela raiz
numa caligrafia de pontos magnéticos
para devorar os dias e as noites nos intervalos da melancolia
de oriente para ocidente
devemos escancarar as grandes janelas do mar
para que tu chegues como água purificante
e eu seja rio que possa eternamente desaguar
nos teus dedos fios de chuva
gotas de sonho na minha pele
alguma coisa de beijar
e eu fosse despido dos embrulhos da estupidez
num tumulto de profundezas astrais
a poesia como um gelado quente
no chocolate das tardes que nos envolviam
eu subia pela cauda dos cometas
adormecia
respirava no infinito
brilhava na serenidade de ser eu
mergulhava nos muitos sonhos das coisas dignas
que minha mãe me ensinou
perfurava até à carne na pressa de ter um corpo
onde pudesses habitar um nome sem lágrimas
uma vida sem castigo
e via-te passar com os meus sonhos nos teus olhos
na cegueira de abençoar o mundo com um poema
que desse a luz à noite
a treva à madrugada
um precipício à boca
e mais alguns berlindes para os olhos do coração.