quarta-feira, 23 de abril de 2008

Não Foste Breve Na Minha Noite



Tom - "Nighthawks at the Dinner"

Não foste breve na minha noite
nem tangível como as faúlhas brancas do poema
por exemplo o abismo onde se escorrega
é o pássaro das coisas intensas como a boca do vento
no olhar vadio da espuma de uma vaga

Sou estrangeiro à vulgar felicidade dos acrobatas
mas torço as palavras ao firmamento
e danço generalizadamente mesmo quando não escrevo
mostro as mãos quotidianas
orquídeas em flor abertas em lençol sobre a terra peixe
ou nuvens sentadas á porta dos instantes
pequenos milagres
assombrações para um corpo
que alguém tem de encontrar na posição correcta
uma janela como um coração
e um muralha de musica para o abrir e fechar sem pensar nisso
nada mudou sobre os arcanos do tempo
na saliva com que se mata o ultimo beijo
eu vejo as ruínas do homem breve e o primeiro gato
que salta sobre os ombros da madrugada
é a única coisa decente que hoje poderá acontecer-nos.

6 comentários:

Ad astra disse...

será?

digo-te, meu querido amigo, hoje a única coisa decente que me aconteceu, foi ler-te e fazer este exercico de degustar lentamente cada frase tua

Um beijo

Anónimo disse...

eu diria que é apenas o primeiro de muitos gatos. imprevisíveis...

ROSASIVENTOS disse...

onde


nada senão o silêncio:


extensamente


flutuação

Graça Pires disse...

Poema intenso "como a boca do vento". Um abraço.

ruth ministro disse...

Muito bonito.

Gosto muito de te ler.

Beijo

Ana Paula Afonso disse...

Tom Waits... aí está algo que é bom escutar