segunda-feira, 14 de abril de 2008

Margem


Enquanto alguns ainda dormem
A aranha acende o dia com as suas patas luminosas
O dia luminoso da aranha
O dia claro e distinto
O dia cheio de canetas
Termómetros para a redução da febre dos papeis que ardem
Uma árvore a crescer do oceano
corpos celestes
barcos com a tempestade do seu precipício
As nossas mãos que fazem o trabalho desqualificado dos que pensam
Os dedos mastros que nos unem pontes invisíveis
Pontes assentes nas grandes fundações do sonho
Do voo mais alto, mais puro, mais muito
Muito mais de tudo
inclusive
O cão de olhos claros
que todos os dias encontras nalgumas esquinas da tua memória
sou eu e outros como eu
os que nunca tiveram pátria
que não a palavra margem
sombra que não fosse um abismo apontado á cabeça
uma corda para prender a noite ás lâmpadas do tempo
ao relâmpago dos lugares mais fundos mais inacessíveis
mais cortados pela Primavera que não chega a tempo
de algumas mágoas despejadas
na casa esquecida onde habitámos sentir

1 comentário:

Joana Roque Lino disse...

Carlos,
Belíssimo poema. Um beijo.