segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sem Titulo




A sua voz macia e meiga poderia custar algumas vidas
mas o que é uma voz terna comparada com umas vidas?

Teria que te dizer onde me escondo
desvendar os meus nocturnos passos
e ver quanto pesa esta carga e o meu sorriso
e talvez entendesses este caminho de nunca chegar
o meu inimigo
uma agulha de tatuar o luar
um livro assassinado por estranhas mãos
e talvez lá chegasses
e entendesses o sofrimento do navio que arde
uma produção de guerra
um nervo
uma garra de corvo cravada no granito
uma gota de sangue na curvatura do sonho
uma colcha de luz para cobrir o infinito
não discutas com o homem que parte
porque viaja no silencio contraditório
a noite primordial com os grandes olhos do acaso
alimento tinta para a boca do poema
Tu a quem dou o tudo do meu nada
Tu com letra grande
Tu de corpo invisível
Tu que não me conheces
nem podes conhecer
porque sou estrangeiro
e não sei correr as cortinas ínfimas
da verdadeira pele e do verdadeiro Sou
mitigado e doloroso
apresento-me aos deuses desleixado
confesso que não me chamo Carlos
nem tenho outro nome
nem sei do meu retrato
nem me retrato no retrato
nem tenho outro mundo
e no fundo
um cisne a fazer de gato
um sapato acrescentado ao pé da evidencia de te ouvir sorrir
e não me deixo abater pela máquina dos lubregues suspiros
nem dou ás procelas os meus preciosos ossos negros
violentos no amparar da carne
e nos minúsculos movimentos do sol
nos meus olhos apagados.

5 comentários:

Ad astra disse...

e cruzamo-nos...

...neste caminho de nunca chegar
...cisne a fazer de gato...


beijo

Joana Roque Lino disse...

muito belo, Tu (não és carlos, nem tens outro nome ;). beijoca

Maria Laura disse...

O prazer de te ler. O prazer da escrita de qualidade.

Eme disse...

Terias de dizer tanto quando já aqui desimpediste uma passagem até aos sentires? Apenas não vê quem não quer. Está sublime o ritmo, sobretudo à segunda leitura. Novidade para mim. A blogosfera é realmente um espanto quando se encontram modos tão diferentes de soltar a prosa.

Um beijo

GarçaReal disse...

A busca constante de algo que não se atinge, que existe em um qualquer ponto do espaço...

Belo

bjgrande do Lago