terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Movimento


O vento levar-nos-á
como no cinema de Kiarostami
pelas margens solares dos trigais
dourados fios dos teus cabelos crepusculares
janela colorida de promessas
sonho e sonho abraço do sonho
as cidades que de ti partem
este poema que partilho
com o cão sem dono e sem liberdade
um profundo sussurro
uma lágrima que condensa no seu núcleo
o berço esquecido
o meu país sem tempo
perdido na solidão das cordas
que amarram os corpos ás pedras frias
estes bolsos rotos
por onde perco as dores a cada passo
que marcam o tempo que não foi
o som que não escutei
eu corro por essas ruas sem sentido
levanto-me das muitas campas onde me sepultei
revejo as minhas vidas passadas
na pele dos peixes vermelhos com que me tocas
e me concedes a verdadeira bênção da inconsciência
vou circunflexo
musical e desassossegado
brevemente existo
na terra por onde já não passas permaneço
mas esse país
conhecer-nos-á pelo nosso nome.







2 comentários:

Joana Roque Lino disse...

li... muito devagarinho, como se fosse uma miúda a comer um doce, para sorver tudo como deve ser. já tinha saudades. muito belo, Carlos, muito "tocante". beijo e se já não nos falarmos, boa semana ;)

Ad astra disse...

sempre me tocam muito, muito fundo as tuas palavras