domingo, 17 de fevereiro de 2008

Flutuamos nas Sombras


Barbara kruger

Flutuamos nas sombras
E no sorriso diário que se tolera
O outro feito de sabidas substâncias
Pisca o olho ao desequilíbrio do mundo
Somos gatos selvagens crepusculares
Que não lamentam saber escrever
Somos o sol queimado pelos ninhos
Onde habitam os nossos nomes
Uma flor feita de peixes
Um colarinho de libélulas
Um cometa vivo
como uma devastação de água purificada
Um acidente visível
O rosto e um gato mais
Que adormece as mãos no negócio dos sonhos
Sustentado pela enorme língua sublunar
Um continente perdido
Onde abruptamente nos penetramos
Algures entre a palavra noite
E o deslumbramento do silencio perfeito.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Todos Esses Instrumentos...


Todos esses instrumentos vermelhos
com que trabalhas o tempo em forma de cão
todos esses passos irremovíveis
com que salpicas o teu destino
servem-me de mira para te apontar este poema
que assinala a minha presença onde quiseres

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Coração da Noite



"A Noite" por: Bezugly Oleg

O fogo abre-se ao meio
Abre-se num gotejar de espuma dourada
Que queima de néon o coração da noite

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Sem Titulo




A sua voz macia e meiga poderia custar algumas vidas
mas o que é uma voz terna comparada com umas vidas?

Teria que te dizer onde me escondo
desvendar os meus nocturnos passos
e ver quanto pesa esta carga e o meu sorriso
e talvez entendesses este caminho de nunca chegar
o meu inimigo
uma agulha de tatuar o luar
um livro assassinado por estranhas mãos
e talvez lá chegasses
e entendesses o sofrimento do navio que arde
uma produção de guerra
um nervo
uma garra de corvo cravada no granito
uma gota de sangue na curvatura do sonho
uma colcha de luz para cobrir o infinito
não discutas com o homem que parte
porque viaja no silencio contraditório
a noite primordial com os grandes olhos do acaso
alimento tinta para a boca do poema
Tu a quem dou o tudo do meu nada
Tu com letra grande
Tu de corpo invisível
Tu que não me conheces
nem podes conhecer
porque sou estrangeiro
e não sei correr as cortinas ínfimas
da verdadeira pele e do verdadeiro Sou
mitigado e doloroso
apresento-me aos deuses desleixado
confesso que não me chamo Carlos
nem tenho outro nome
nem sei do meu retrato
nem me retrato no retrato
nem tenho outro mundo
e no fundo
um cisne a fazer de gato
um sapato acrescentado ao pé da evidencia de te ouvir sorrir
e não me deixo abater pela máquina dos lubregues suspiros
nem dou ás procelas os meus preciosos ossos negros
violentos no amparar da carne
e nos minúsculos movimentos do sol
nos meus olhos apagados.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Voz


Dobro-me contra as folhas
coloco-me na posição de mudar o mundo
acolho o profundo azul
que existe nos olhos dos pássaros
e no sangue que a rosas bebem
dos pulsos dos sacrificados
dobro-me contra as folhas
carrego nos botões solares
nas cordas vibrantes do planeta
e ofereço-te uma cidade musical
eu queria uma voz que fosse âncora
e uma arquitectura que fosse o teu nome
um vidro de extremas cores
eu queria um piano e uma citara estrutural
onde pudesse adormecer quase sublime
passar á condição de bicho que sonha
a altivez do teu perfil
a tua mão no sentido da respiração das magnólias
os dedos que alcançam a palpitação das ideias
loucas por pouco tempo
abertas à lucidez do abrir
uma porta para o começo da loucura
se eu quisesse engoliria um asterisco
transformava-me nalguma coisa sensível e cortante
um rosto parecido realmente com o meu
um cálice muito acima das nuvens
onde fossemos só brancura de chuva a cair
e à sua transparência desaparecessemos…

Quem?



Diz-me quem é esta gente surda
que se movimenta por entre os pequenos
espaços das pautas de musica
quem é esta gente de rosto voraz
de dentes limpos e cada vez mais limpos
que rouba a cor ás palavras
e que nos ameaça com chapéus de chuva
molhados de imbecilidade
quem são estes serafins globalizados
com as suas fardazinhas impecavelmente abertas
aos tentáculos que lhes saem pela gola
quem é esta gente que cheira a peixe frito
E ridiculariza a 9ª sinfonia de Mahler?