quarta-feira, 16 de abril de 2008

No Bolso Esquerdo


William Blake - The Ancient Of Days

No bolso esquerdo da camisa
bate um coração encerrado nas diversas magias
do tempo com os seus grandes ganchos
transportam as memórias à flor dos olhos
águas torrenciais que percorrem a pele e esculpem o rosto
com que viajo amarrotado por dias nenhuns
os brutais intervalos lunares da melancolia
amarram-se à corda com que deambulo vagarosamente pelo sonho
mistério estrutural das coisas libertadas
no abrir e fechar das palavras
para que as imagens saltem
como os animais no principio do mundo
Eu agora sou um rio primordial que corre para a sua fonte
sou um corpo de espuma que dorme com a sua vaga
uma cintilação que em silencio espera da noite
a lucidez das flores
como um relógio preciso dentro nas veias das grandes árvores
sou um animal prudente com relâmpagos pelas unhas
tinta para dar cor aos segredos mais infimos
agora brilhamos por dentro
somos um dentro a deitar a luz para fora
um poço que jorra as incomensuráveis
lonjuras da luz roubada ás estrelas
um caminho paralelo cicatrizante e profundo
laranjas loucas com seus gomos repartidos pelos meses
uma chuva com a correcta pronuncia do meu nome
finalmente sei que o meu nome provem das nuvens
e das devastações que por meus olhos se anunciam
na absoluta claridade de um acordar.

6 comentários:

~pi disse...

poços e devastações:

lugares

por onde

fala

a mais

incomentada

madrugada



~

Ad astra disse...

cada vez que te leio é assim:

"...voo mais alto, mais puro, mais muito
Muito mais de tudo..."

um beijo

Joana Roque Lino disse...

desde o teu bolso até ao sopro da nuvem, fiapo de voz, prenhe de luz...

tchi disse...

…na plena alvura…

abraço.

ROSASIVENTOS disse...

beber-se a

eternidade...

Graça Pires disse...

um rio primordial que corre para a sua fonte.
Um nome que provém das nuvens.
Gostei muito.
Um abraço.