
Martin Ridley
Estas linhas
cozidas no desespero
da onda que leva à praia o rosto do homem afogado
de negro vestido com a saudade nas algibeiras
o tempo não vivido que passou
o numero da lotaria que lhe calhou
bagos de romã, a vida
enforca o sorriso do sonho na corda do amanhecer
a esperança nestes lençóis de linho amorrotados de luz
os teus braços onde acolhes a ternura
destes promontórios onde o poema abraça o mar
águas onde todos os erros são perdoados
este sal coruja da noite
asas silentes
estas mãos que escrevem para ti
os desastres onde mergulhamos a flor que decide o próximo passo
a pétala que cai sem força para permanecer
agora ascendo no silêncio deste quarto onde me perdi
sou uma pedra impossível no cabo do mundo
permaneço imóvel
espero o V de voo
das grandes aves migratórias que atravessam esta paisagem
e não tenho nome para dizer
da beleza do meu coração
quando dança nas tuas mãos.