quarta-feira, 27 de junho de 2007

As mães

As mães estão nas lágrimas azuis que os filhos secretamente choram por não lhes puderem valer como elas sempre fizeram por eles, por isso a divida é eterna e impagável. Os filhos choram o sofrimento das mães mas o sofrimento das mães é desumano e incomensuravelmente maior por não puderem mais cuidar deles. Os filhos são todo o sentido da vida das mães. As mães criam-se em redor dos filhos e são as muitas palavras que eles falam, estão em todas as sílabas das suas metáforas. As mães sãos as coisas mais belas que os filhos carregam e que depois são oferecidas a outras mulheres mães sem eles saberem, sem se aperceberem que são um presente da primeira mãe para a mãe mais nova. A mãe transmite-se de filho em filho, da primeira mãe até à mãe derradeira. Os anjos são feitos da carne das mães, mesmo daquelas menos subtis. E os filhos choram outra vez como quando nasceram quando as mães morrem. Chamam por elas em gritos primordiais, sanguinários. Choram porque perderam os olhos da cara que os ensinaram a encontrar o amor e a respiração com que diariamente acordam. Os filhos sem mães tem que aprender outra vez a respirar o ar que todas as manhãs ascende dos pulmões ao seu coração magoado. Assim é há muitos anos sem que os filhos se apercebam. A mãe olha o filho pela última vez quando o amor e a dor se fundem na matéria sensacional das estrelas num abraço superiormente profundo, é a primeira vez que alguns filhos navegam neste mar. O filho recusa partilhar a dor da mãe, não consegue ver nada além da brutal desumanidade, a total ausência de Deus naquela situação esmagadora. Mas a mãe tem os olhos abertos e abre com as suas lágrimas os olhos do filho. O filho não sabe porque chora e não nota que as suas lágrimas são azuis pela primeira e ultima vez. O filho pensa que a vida continua mas por vezes quando acorda e se vê ao espelho a sua pele contem reflexos de azul, e há dias sem nuvens em que ele consegue finalmente compreender a cor do céu, a cor de todas as mães.

6 comentários:

Joana Roque Lino disse...

Querido Carlos,

Um grande abraço e um beijinho.

Unknown disse...

Muito boa sorte e boas palavras.

valter hugo mãe disse...

caro carlos, obrigado pelas suas palavras no meu blogue. passarei por cá. terei muito gosto em ir acompanhando sempre que possa. abraço grande

José Alexandre Ramos disse...

interessante.

Anónimo disse...

Meu bom amigo, gostei deste teu texto de sabor biográfico - se é que os há, não biográficos.
Vou-te enviar fotografias da minha última obra paternal, de seu nome Fernão.
Um fraternal abraço

Fernando Lino

Anónimo disse...

Olá Carlos,

Que coincidência feliz ter-te encontrado nas minhas etéreas deambulações.

Sobre a tua escrita, fiquei deslumbrado; sobre este texto, em particular, deixo-te aqui um grande abraço nesta quadra por vezes (in)justamente natalícia!