quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Leptis


Shifano - "Leptis Nasceu Aqui"

A noite mordida por debaixo do candeeiro da madrugada
abre os olhos ao sonho possível
dos dias inquietados
dir-se-ia pela tranquilidade aparente das águas do mês de Agosto
ou pelo traço que um sorriso pode deixar no azul da noite
estrelas cadentes esperam pelo seu destino
uma casa onde a infância não termina
sento-me á espera da memória intocada
matéria essencial da liberdade
para que liberte os amigos das horas da ausência
a visão memória como respiração absoluta
a centelha primordial para o fogo de um abraço
os instantes por dentro dos obscuros fragmentos luminosos
que cosem o passado ao devir
molduras
letras grandes
rosas púrpuras
pequenos milagres
fermentos no pão da boca que procura a língua
para dizer os teus passos na minha direcção
ou apenas um barco improvável na futura chuva
onde habitaremos intensamente um nome.

Agora as luzes são tão vagas
que não me importo de fechar os olhos e flutuar.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Godard?


Patrick John Mills - "Sunflower Man"


Entra pela ínfima porta da alegria
pergunta quem é Godard?
um rio tranquilo
algumas maçãs no sossego de suas árvores respondem
Godard o construtor
Godard o sábio
Godard sobre a maçã sossegada
Godard a árvore
Godard que passa em frente à minha janela
Godard de chapéu vermelho
no braço esquerdo tapetes
no direito relógios e outros dourados
mais os planetas insuspeitos a rodopiarem á sua volta
ninguém vê
ninguém repara
na brancura dos seus gestos como as manhãs de Agosto
no seu passaporte escrito a sonho
e que esse não está à venda
Godard
no braço esquerdo tapetes
no direito relógios e outros dourados

Eras doce ainda
quando os teus olás tinham significado
agora tens o destino desfigurado
pelas implicações da longa desilusão dos minutos passados
e das horas que hão-de vir e magoar
tremes, mordes a língua do cão que és
um truque para a sobrevivência de estrangeiros
em lugares longínquos
Godard
ilegal
queria voar para o resto do mundo
exigindo a utopia
a viagem para um centro
onde se respirasse
um consenso comunicante de espíritos livres
uma arqueologia para um futuro in possível
a nossa música como diria
começa no purgatório e termina no paraíso
no braço esquerdo tapetes
no direito relógios e outros dourados
Godard segue o seu caminho
brilhando.