quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Gaveta de Luz


William Blake

Gaveta e luz
que te não abro
para não cegar de vez
Gaveta de luz
onde guardo a brancura
com que pinto este papel a palavras negras
Gaveta de luz
espuma destes dias
mar de púrpura flor
água sonhada
e tantas vezes respirada
Gaveta de luz
nau petrificada
que somente aos corvos pertences
livro do sal e da areia
esta minha terra
litoral de dunas devoradas
vertigem de morder os dedos
o medo visível somente ao entardecer
o silencio lunar do corpo
entregue á mansidão do esquecimento
pétalas de fecharmos os olhos
num precipício perfumado
gaveta de luz
lençol onde termina o sofrimento dos lábios
abertos pela treva oceânica
gaveta de luz
onde nos abraçamos
no momento único
de nos recordarmos até ao fim.



sábado, 10 de novembro de 2007

Despedida


Yves Klein - "Blue Sponge"

A terra tremia e era doce o teu sorriso
Iluminado com a coragem das mães solitárias
De nenhuns filhos
Olhava de lado o teu perfil
As rugas de solidão cravadas na pele
Alimentavam o rosto preto e branco
Alguns cães desenhados na tua boca
O excesso de beleza dos teus olhos
Fotografados na memória para sobreviver
nesse rio quotidiano que me ilumina
Por dentro sei das súplicas que ele me traz
Os sublinhados nestas frases
Perante a indiferença geral
A nostalgia da justiça que era ter-te

Tenho as minhas razões para ser poeta
Para olhar para as flores e para as pedras
E misturar-lhes mar e algum cuspo
E ser o que não sou fora de mim
Consumidor das luzes que trazem a noite
Um sistema de profundidades várias
Onde as palavras se entregam
Á verdadeira revolução que habita esta casa
Estes passos pouco suaves
Em direcção ao nada
Esta desordem
Estes dedos cheios de utopia
Algum sonho de menino assustado
A agitação que se aproxima
O amanhecer do dia primeiro
onde fecho os olhos para te ver
água
poema
rendição
mel da vida
despedida.

Desafio

A Joana Roque Lino da 8ª Edição (http://oitavaedicao.blogspot.com/, passou-me o repto seguinte:
1-Pegar ao acaso no livro mais próximo, com mais de 161 páginas;
2-Abrir o livro na pág. 161;
3-Na referida página, procurar a quinta frase completa;
4-Transcrever na íntegra para o blogue a frase encontrada;
5-Passar o desafio a cinco novos blogues.

Do meu livro:

“Porque a liberdade era o seu pão (este, como dissemos, não era amargo, mas sobretudo doce: uma alimentação quotidiana inexpressiva).

Pier Paolo Pasolini, in “As Ultimas Palavras De Um Ímpio”

Passo agora o mesmo desafio aos seguintes blogues, caso aproveitem a vaga:

http://contar-te.blogspot.com/
http://lagoreal.blogspot.com/
http://perolasdeouro.blogspot.com/
http://ocheirodailha.blogspot.com/
http://www.jacramos.blogspot.com/